A missão do Mestre de Romeiros
Quando à dez anos atrás me indigitaram como Mestre de Romeiros ao Pároco de Ribeira Quente, sabiam o que esperar de mim:
a) Representar no interior e exterior o Rancho de Romeiros;
b) Representar todo o colectivo de irmãos inscritos desde 2001;
c) Animar e coordenar a acção pastoral deste Rancho;
d) Presidir aos encontros de reflexão e preparação para a Romaria;
e) Presidir à Semana de Romaria Quaresmal;
f) Ser o Servo de todos e ocupar o ultimo lugar.
São estas – e não outras – as funções com que me comprometi há dez anos desempenhar, o melhor que soube e pude. Não esperem de mim mais do que me é pedido pelos Regulamentos dos Romeiros da Ilha de São Miguel, pelo Grupo Coordenador das Romarias, pelo Pároco da minha terra e pelo Bispo desta nossa Diocese. Portanto e para quem me conhece bem, não criei nenhuma instituição para Reinar e tirar proveito. Não dividi para reinar, nem excedi as funções que me foram confiadas.
No trabalho desta missão, que é mais pastoral, procurei ser solícito, fraterno e repreender com caridade. Procurei fomentar e coordenar a actividade pastoral e animar a vida deste nosso Rancho em comunhão com todos os outros responsáveis e conselheiros. Fi-lo sempre com a convicção de que é mais importante e necessário trabalhar em comunhão, do que atirar-me até à exaustão das minhas forças sozinho como Mestre. É de extrema importância trabalhar em comunhão, do que sozinho, mesmo que me considere capaz deste trabalho; concluindo: é mais importante a comunhão do que a acção.
Este cargo de Mestre que termina no próximo ano, podendo ser reconduzido ou não em Assembleia de Irmãos, reveste-se de importância pastoral e comunitária. O Mestre representa um colectivo de irmãos para o bem e para o mal e quando pede alguma ajuda, subsidio ou apoio a alguém ou a alguma instituição civil, cultural ou religiosa, não pede para proveito pessoal, mas para proveito de todo este colectivo de Irmãos e de toda a família paroquial. Se dependemos de outras instituições e estas nos prestam apoio, não é o Mestre que depende e o apoio não é para ele próprio. Volto a repetir: É PARA TODO O COLECTIVO DOS IRMÃO.
Se o cargo Mestre serve para contentamento do ego e para proveito próprio – eu, ribeiraquentense, Católico, Apostólico e Conservador não me revejo nesse ego. Aqueles que me conheceram ao longo destes dez anos e hoje me conheçam, consideram-me um homem de casa e de Igreja, pouco conhecido, um louco e fanático por Cristo – penso que nunca me virão e não me verão cair na tentação de vestir a roupa do patrão e do mandatário. Prefiro, sim a veste da Humildade e do Serviço, pois, na Igreja, todos “somos servos inúteis” (Lucas 17:9-10).
Procurei resistir sempre à tentação e com todas as minhas forças sentar-me no trono. Não fui feito para mandar e quem sai de Romeiro comigo, ou lida comigo no dia a dia sabe muito bem disso.
Desde criança, aprendi com a minha querida e saudosa avó que somos nós que dignificamos os lugares e não os lugares que nos dignificam. Segundo o Evangelho, o maior deve ser o menor, e quem manda, manda como quem serve.
Todo aquele que é chamado a ser Mestre ou a exercer algum Ministério encontra-se perante este dilema: ser servido ou servir. Este desejo de servir GRATUITAMENTE e sem RECOMPENSA alguma, rebenta com as amarras do egoísmo, fazendo da sua vida uma total e doação. Muito ou pouco que tenhamos feito, não compete a ninguém julgar, nem ao próprio. Só Deus nos julgará.
Na Igreja de Deus não há vencedores nem vencidos, pois todos somos colaboradores de Deus, diz-nos São Paulo(1Cor 3:6-11) e somos servos inúteis, como nos diz o Mestre Jesus.
Confiei sempre na amizade e ajuda dos meus colaboradores mais próximos, na amizade filial de todos os que comigo caminharam e espero continuar com a sua ajuda para levar a bom porto a missão que me foi confiada há dez anos, que poderá estar a terminar ou a recomeçar com novos desafios, vai depender da vontade de todos os Irmãos. Nunca foi para mim demais ajudar muitos e muitos irmãos a abrirem-se à Palavra de Deus e a continuarem a sua caminhada de fé.
Como responsável por este Rancho e por este Colectivo de Irmãos, não poderei permitir que a rotina me assalte e domine, que as criticas tantas vezes infundadas e incoerentes me façam esmorecer ou desviar do essencial – A salvação das almas, a conversão progressiva e a catequização dos que me foram confiados.
Termino afirmando o que eu atrás referi: Os Romeiros da Ribeira Quente são um Colectivo de Irmãos, de diferentes idades, atitudes, defeitos e qualidades. Os Romeiros da Ribeira Quente não são unicamente a figura do Mestre.
Sei que não sou santo, tenho as minhas limitações e fraquezas. Sei e reconheço quando erro e quando me excedo. Sei que sou um servo inútil.
Que o Senhor Jesus e Sua Mãe Maria Santíssima nos conceda a graça de colaborarmos fraternamente para o bem do Seu povo.
Queridos irmãos, rezai a Deus por mim e encomendai-me à protecção de Nossa Senhora Mãe de Deus e Mãe dos Romeiros, encomendai-me também ao Apóstolo São Paulo, meu Padroeiro.
Termino em jeito de Oração como o Salmista:
Senhor, não se eleva soberbo o meu coração,
nem se levantam altivos os meus olhos.
Não ambiciono riquezas,
nem coisas superiores a mim.
Antes fico sossegado e tranquilo,
como criança ao colo da mãe.
Espera, Israel, no Senhor,
agora e para sempre.
Um grande abraço em Cristo
Márcio Peixoto – Irmão Mestre
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